Posição ou Princípios? Onde está o nosso foco?

O que precisamos é de jogador que entenda o jogo e saiba jogar!

Carlos Pimentel

4/27/20244 min ler

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Posição ou Princípios ? Onde está o nosso foco?

Durante uma conversa com meu amigo e assessor Lucas fui questionado e desafiado a pensar o por que tão poucos treinadores estarem abertos a utilizarem os mesmos jogadores em mais de uma posição. O desafio era propor um pensamento crítico acima da questão que saísse e fosse além do simplismo e da redundância em dizer que “estamos sempre em busca do resultado a curto prazo para mantermos nossos empregos”.

Sem a pretenção de esgotar o tema, isso seria impossível, mas de contribuir com a questão, refleti um possível caminho que muito me intriga e traz inquietude.

Quais são os paradigmas conceituais sobre as dinâmicas e idéias de jogo mais em voga no futebol nacional?

Ora para ser jogo precisamos de pelo menos 4 pré requisitos essenciais: Jogador, Oponente, Bola e Espaço.

Pronto, temos um Jogo!

É claro que a complexidade de um jogo e do jogar esse jogo vai muito além disso, mas uma das premissas constituintes básicas de um jogo passa por ai.

Mas vamos adiante. Quais relações podemos estabelecer com esses componentes de maneira imediata? Uma das respostas mais assertivas, sem dúvida, será a relação entre Tempo x Espaço. Se temos portanto os elementos humanos (jogadores), se temos um aparato (bola), se temos uma dimensão territorial (espaço), precisamos entender como tudo ocorrera de maneira harmoniosa ou anárquica dentro da dimensão temporal. Afinal, todos eventos de um jogo ocorrem necessariamente durante determinado tempo.

Sem fugir do propósito deste texto, a maneira como jogamos um jogo pode, dentro de determinado tempo, em inúmeros momentos (diversos jogos dentro do mesmo jogo), mostrar duas tendências de como nossas equipes e atletas se relacionam com a questão espacial. Uma das tendências ainda predominantes em nosso pais, em especial nas ultimas 4 décadas, tem haver com aquilo que se denominou Jogo de Posição. Nesse, a ocupação territorial dos atletas nos diversos momentos e fases do jogo, obedece uma ordem espacial. A relação com a maneira de jogar tem a ver com o tempo em que a bola demora para chegar a determinado espaço do campo, onde o mesmo é preenchido pela presença de determinado jogador. É uma idéia mais simétrica de distribuição do time em relação aos espaços do campo.

Outra tendência que remonta muito as nossas origens e o nosso jeito clássico de jogar pode ser denominada de Jogo Funcional ou mais contemporaneamente como Jogo Relacional, e ainda, Relacionismo. Neste, a distribuição do jogador no espaço em relação ao tempo das ações com e sem bola, parte da compreensão e iniciativa individual do atleta, obviamente, dentro de uma idéia coletiva. Assim, por mais que não apresente a mesma simetria posicional, contem uma riqueza coletiva de ações e comportamentos, de maneira sistêmica, coletiva e integral, que confere fluidez e plasticidade na maneira de jogar. Será tão melhor a medida que melhor for a compreensão do todo, sendo portanto uma proposta que evolui efetivamente com jogadores dotados de autonomia, leitura de jogo e tomada de decisão. Hoje o maior expoente dessa maneira de jogar no Brasil é o Fluminense dos meus amigos Fernando Diniz e Eduardo Barros.

Mas continuando nosso pensamento: onde esta o nosso foco? Eu não tenho dúvida em afirmar que, seja nas categorias de formação (em sua grande maioria), seja nas equipes principais, estamos colocando rótulos em nossos jogadores. Sim, desde muito cedo estamos treinando as posições do jogo, ou por assim dizer, estamos treinando laterais, zagueiros, volantes, meias (cada vez menos), pontas e centroavantes. Seja pelo biotipo, seja pela técnica, seja pela impressão personalista, ou até mesmo pela preferência do mercado, a cada dia mais nos esquecemos do todo e priorizamos as partes.

Esse paradigma cultural da formação esportiva desde muito cedo, cristaliza o desenvolver e sufoca ou castra a totalidade do potencial de cada menino e menina que, dia a dia, surgem, sem cessar, nos nossos campos de jogo.

Como alternativa, um dos caminhos possíveis é priorizarmos, ao invés da posição, os princípios constituintes do jogar futebol. Independentemente da posição que nossos jogadores vierem a desempenhar no campo, o foco de efetividade é o domínio do todo que constitui esse jogar. Compreender isso implica em estimular desde sempre nossos jogadores com um ambiente rico, complexo e desafiador, instigante e plural, propenso a autonomia e ao protagonismo.

Entender que o jogo de futebol é um jogo de invasão, de conquista territorial, de superação de adversidades, de proteção e conservação da bola, de unidade e com foco na ruptura da resistência oposta, com um alvo fixo de conclusão e com inúmeros desafios e possibilidades dentro do tempo total, caminha, sem dúvida, no sentido de um desenvolvimento mais completo. Independentemente da matriz que irão jogar, se posicional ou relacional, da dinâmica aplicada, se apoiada, rápida ou reativa, da estrutura escolhida, dentre as mais diversas possibilidades.

O que precisamos é de jogador que entenda o jogo e saiba jogar!

Quanto aos princípios, eles serão os alicerces da aculturação ou do comportamento, como queiram chamar. Podemos dentre eles, destacar alguns como por exemplo:

Princípios ofensivos:

Compactação ofensiva

Recomeço com e sem bola

Jogo apoiado no centro de jogo

Janela de passe

Penetração interna e externa

Ruptura de linha

Princípios defensivos:

Abordagem

Diagonal

Preenchimento de espaço

Recomposição

Proteção Interna

Zonas pressionante

Um jogo mais bem jogado, mais bem explorado na sua riqueza e possibilidades, passa por jogadores que tenham todos seus potenciais desenvolvidos e aplicados.

Certamente voltaremos a esse tema, pormenorizando cada princípio com a devida atenção e profundidade que merecem. Afinal, Esse é o nosso jogo!

Até Breve.