Sobre a tomada de decisão (parte 1)

Tolice é sempre fazer as coisas do mesmo jeito e esperar resultados diferentes.

9/27/20233 min ler

Continuando a abordagem sobre o jogador inteligente, em especial na questão da tomada de decisão, é importante a realização de algumas considerações:

Como é a lógica do mecanismo da tomada de decisão?

Qual é a maneira mais eficaz de treinamento dessa capacidade cognitiva dos atletas?

A Dinâmica da tomada de decisão obedece a seguinte ordem:

Ler (basicamente a visualização, o “scanner”, da situação que se apresenta no jogo);

Interpretar (ao ler, identificamos o máximo de variáveis daquele momento específico);

Julgar (ao interpretar, chegamos a conclusão de qual necessidade precisamos para a situação problema em questão);

Escolher (após julgar, escolhemos dentre nosso repertório adquirido previamente, aquele que, ao nosso ver, é o mais eficaz para a resolução do problema);

Realizar (depois de escolhido, é o momento de por em prática a nossa ação)

Complexo não?! Ainda mais se considerarmos que tudo isso é uma situação “tempo dependente”, ou seja, a ser processada e executada instantaneamente. Lembremos que num jogo, como ja dissemos anteriormente, em torno de 2400 vezes somos desafiados a tomar decisões.

Uma coisa logo vem a nossa mente. Se tudo isso é tão complexo e tão imediato, aquele atleta que tiver a capacidade de fazer escolhas certas e apresentar ações que solucione o problema será o mais bem sucedido? É exatamente isso!

As duas variáveis que mais buscamos desenvolver na tomada de decisão são exatamente: a rapidez e a assertividade. Ou, em outras palavras, quem tem a melhor e a mais rápida tomada de decisão.

Nesse momento é importante mencionar que, diferentemente do que muito se acreditava e ainda, posso afirmar, muita gente insiste em fazer, a lógica da aquisição dessa capacidade de leitura de jogo, ou de inteligência de jogo, não é uma mera pratica repetitiva à exaustão. Não se trata de submetermos os nossos atletas a repetitivas e acumulativas 3000 horas de atividades.

A lógica aqui é outra, é expositiva e vivencial. Para isso, a variabilidade de contextos e situações; a estimulação em cenários sempre abertos e criativos; e a percepção que aqui não cabe a noção de condicionamento, mas sim, como o pesquisador Vitor Frade denomina, de aculturação que gere comportamentos dentro de campo.

Na verdade, as longas horas de repetição muitas vezes cristalizam “vícios” ou “distorções” difíceis de corrigir as aletas mais maduros. E isso tem total efeito naquilo que chamamos de “capacidade criativa”.

Pesquisas mostram que crianças são exatamente aquelas que possuem a maior capacidade inventiva, de criação e de adaptação a novas situações, desafios e contextos, diferentemente dos adultos, exatamente por possuírem menos medos, frustrações, experiências mal sucedidas e “vícios” inibitórios que, simplesmente, “castram” ou bloqueiam a capacidade de criar e inovar.

Segue portanto, algumas características que potencializarão o planejamento e a execução de nossas sessões de treino:

Complexidade

Não significa apenas ser difícil, muitas vezes nem deve ser. Complexo aqui significa ser específico, ter as mesmas características e dinâmicas que o jogo tem. Nesse sentido, podemos afirmar que o mínimo necessário para ser jogo é 1x1, bola e espaço (campo). Sim isso mesmo! Podemos perfeitamente fazer dessa atividade aparentemente simples, a mais rica e complexa possível. É o que na Periodização Tática chamamos de “reduzir sem empobrecer”.

Ambiente Desafiador

Um contexto de jogo onde a todo instante sejamos submetidos e estimulados à resolução de problemas. Onde constantemente sejamos submetidos ao aleatório e ao imprevisível.

Atingível

Tão importante quanto o que dissemos na complexidade e no ambiente desafiador é que as atividades sejam atingíveis, ou seja, que os atletas tenham a autonomia e a capacidade de resolver os problemas. De nada adianta um problema extremamente desafiador e complexo se nunca obtivermos as respostas. Isso, na verdade, bloqueia e desestimula nossa criatividade e nos conduz a zonas de segurança e medo. Temos que ter em vista, portanto, que a autonomia desejada passa também por uma atividade que se torne prazeirosa, solucionável e progressiva. Um passo de cada vez!

No próximo artigo vamos continuar com o tema, abordando um pouco de como nosso cérebro funciona e o que podemos aprender com isso, na elaboração de atividades que desenvolvam a tomada de decisão nos nossos atletas.

Gostou? Continue com a gente, e até a próxima semana. Afinal, Esse é o nosso jogo!

Forte abraço.