Sobre o Jogador Inteligente

O repertório de situações vividas e experimentadas pelos jogadores é de fundamental importância no desenvolvimento da leitura de jogo e da correta tomada de decisão

Carlos Pimentel

9/20/2023

No último artigo, falamos sobre a percepção do Jogador do Futuro, como sendo, entre outras coisas, aquele que possui um diferencial decisivo para a obtenção do sucesso dentro de campo. Esse diferencial consiste na Inteligência de Jogo. Sobre isso queremos falar um pouco hoje.

Que tipo de inteligência é essa?

Basicamente durante uma partida de futebol com os seus 90 e tantos minutos de jogo, um jogador profissional de executa em torno de 2400 tomadas de decisão. Isso mesmo! Para se ter uma idéia do que isso representa, uma pessoa normal, no decorrer de suas atividades diárias, em 24 horas, necessita em média 3000 tomadas de decisão. Uau, parece incrível não é? E é!

Isso leva a constatação que o cérebro de um atleta possui uma capacidade funcional incrível para a execução de suas atividades em campo. Como comprovado cientificamente, a exposição a esse tipo de exigência faz com que o cérebro desses atletas sofra uma adaptação positiva e estrutural naquilo que os cientistas chamam de “neutro-plasticidade”. Em outras palavras, o cérebro com a sua rede de impulsos elétricos (neurônios e sinapses) se molda de acordo com as exigências que o meio ou as situações externas se apresentam.

Estimativas indicam que até o ano de 2030 com a crescente intensidade do futebol, com cada vez menos espaço disponível e cada vez mais competitividade entre as equipes, o mesmo jogador necessitará de algo em torno de 3000 tomadas de decisão a cada partida.

Ok, mas como podemos otimizar isso no dia a dia dos nossos atletas, crianças, adolescentes e jovens?

A resposta é… TREINANDO!

Sim isso mesmo, da mesma maneira que treinamos para nos tornar mais aptos fisicamente (força, resistência, velocidade, agilidade, coordenação, flexibilidade…); da mesma maneira que treinamos para aprimorar os fundamentos técnicos (passe, chute, cabeceio, finta, domínio, cruzamento, condução de bola…); e, da mesma maneira que nos preparamos para as questões estratégicas do jogo (posicionamento, coberturas, transições, marcação, triangulações, sistemas táticos…), também devemos preparar nossos atletas para uma formação integral, com a melhor leitura de jogo e a mais apropriada tomada de decisão.

Inúmeros são os avanços científicos da neurociência e tecnológicos, que já usam até a IA (inteligência artificial), para sofisticar métodos de treinamento para a tomada de decisão de atletas.

Infelizmente no Brasil, ainda estamos engatinhando nesse quesito. Ouvimos muito por ai, como de resto por todo o planeta, que no Brasil sempre tivemos, além dos jogadores mais técnicos, também aqueles com maior irreverência, criatividade e improvisação. Para muitos isso se traduzia no verdadeiro “futebol arte”. E que aqui, como em nenhum outro lugar do mundo, se praticava em campo aquilo que aprendíamos no futebol de rua.

Fato é que por muitos motivos isso mudou e serve de assunto para futuras publicações.

O que constatamos hoje é uma preocupação muito acentuada no ganhar a qualquer preço. Afinal, o resultado do jogo é sim de fundamental importância. O que mais preocupa é o “qualquer preço” ou “qualquer jeito”.

Dados coletados em pesquisas cientificas em diversas equipes sub 20 por todo Brasil, mostra que, em média, os jogadores executam 1800 tomadas de decisão por partida, ou seja 25% a menos que um jogador de uma equipe profissional adulta.

A cada dia mais os jogadores entre 18 e 20 anos já compõem suas equipes nas categoria principais . Muitos inclusive, são negociados com o exterior nesse período. Porém, números como o acima, nos mostra que, a cada dia, mais esses jovens atletas estão chegando com uma preparação insuficiente diante daquilo que serão submetidos e exigidos nas prateleiras superiores do futebol.

Quando isso acontece, por exemplo, com a parte atlética, e um jovem jogador demonstra insuficiência de sustentar a intensidade física de um jogo na equipe profissional, o que se faz? Coloca-se o mesmo num programa individualizado de preparação física, afim que esse atleta evolua na sua condição atlética e consiga rendimento compatível com a demanda imposta.

Por que não fazermos o mesmo com a questão neuro-fisiológica da inteligência de jogo? E mais, por que não iniciar o mais cedo possível esse treinamento? Estudos mostram que um repertório de situações vividas e experimentadas pelos jogadores é de fundamental importância como pré requisito do desenvolvimento da leitura de jogo e da correta tomada de decisão diante de uma situação problema.

Cabe a nós, treinadores, instrutores, professores, e por que não, PAIS, sermos os facilitadores de um conjunto de atividades que sejam instigantes, desafiadoras, ricas e estimulantes aos jovens e futuros jogadores.

Esse é também um dos grandes desafios desse projeto. Aqui iremos cada vez mais caminharmos comprometidos com esse aspecto da formação e desenvolvimento dos nossos futuros “craques”, oferecendo conteúdo, método e toda forma de informação, para sermos parceiros da transformação de vidas desses jovens e potenciais talentos, através do futebol.

Continue com a gente, mergulhe, seja parte, sonhando e fazendo juntos!

Nosso grande projeto é exatamente o Jogador do Futuro!

Afinal, como sempre dizemos, Esse é o nosso jogo!

Um grande abraço.